Dentre os apreciadores de histórias em quadrinhos, poucos títulos são unanimidade, ou quase unanimidade. Afinal, há sempre um sujeito do contra por aí. Mas enfim, uma das HQs de maior sucesso, tanto de público quanto de crítica, é Sandman, a criação máxima do roteirista Neil Gaiman.
Uma das grandes responsáveis, ao lado de Watchmen, de Alan Moore, e Batman – O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, por mudar a visão que se tinha dos gibis até então, elevando-os a um patamar adulto e conferindo-os o status de arte da mais alta qualidade. Não a toa, todas essas revistas citadas, especialmente a série da qual estamos falando aqui, angariaram uma batelada de prêmios, tanto dos quadrinhos quanto da literatura em geral.
O caso específico de Sandman é ainda mais sintomático. Mesmo 12 anos após o final de sua publicação, o título continua vendendo muito em suas edições encadernadas, até aqui no Brasil onde recentemente foi republicado pela editora Panini, em quatro volumes de luxo e com um preço bem salgado para os padrões tupiniquins.
Bem, mas qual o motivo de tanto fuzuê em torno desta revista? E mais, sobre o que é? Calma, meu apressado amigo delfonauta, todas essas perguntas serão respondidas logo abaixo.
DORMIR, TALVEZ SONHAR
Em seu segundo trabalho para a DC Comics (o primeiro foi a minissérie Orquídea Negra), Gaiman basicamente reinventou o personagem Sandman.
Antes, Sandman era Wesley Dodds, um vigilante mascarado criado na década de 40 que combatia o crime usando uma arma que disparava sonífero e integrava a Sociedade da Justiça da América, a precursora da mais popular Liga da Justiça.
Na reinvenção de Gaiman, o personagem seria ninguém menos que Morpheus, o deus dos sonhos da mitologia grega, misturado com elementos de Sandman, um personagem popular do folclore anglo-saxão (aqui no Brasil, ele não é muito conhecido, mas costuma ser chamado de João Pestana), uma figura que sopra areia nos olhos das pessoas enquanto elas dormem, fazendo-as sonhar.
Dessa mistura de mitologia e folclore, surge Morpheus, ou Sonho, o governante do reino do Sonhar, formado pelos sonhos de todas as criaturas vivas. Sua função, além de administrar seu reino, é garantir os sonhos dos seres vivos, sejam eles bons ou ruins.
Morpheus é uma espécie de semideus, e existe desde a aurora dos tempos. Embora tenha poderes praticamente ilimitados e uma existência de milhões de anos, não é imortal (fato importante para um dos arcos da HQ). Ele tem seis irmãos e juntos são chamados de Perpétuos.
Os outros irmãos são Morte, Desespero, Delírio, Desejo, Destruição e Destino. Repare que em inglês todos os nomes começam com a letra “d” (Despair, Delirium, Desire, Destruction e Destiny. Sonho é Dream e Morte é Death). E como os próprios nomes entregam, representam aspectos inerentes da vida humana.
E este é o grande segredo da série. Misturar elementos de diferentes mitologias (grega, nórdica, egípcia), folclores, religiões e filosofia em histórias que privilegiam não a ação, mas sim as discussões a respeito da própria humanidade. Como as tramas geralmente são contadas do ponto de vista de Morpheus (ou de algum outro dos Perpétuos), o autor usa esse artifício para mostrar os atos humanos de fora, visto pelos olhos de alguém que está acima deles, quase numa abordagem antropológica.
Mas não nos esqueçamos que Neil Gaiman adora contar histórias fantásticas e cheias de magia. E, claro, esses elementos também estão presentes e por várias vezes colidem com o “mundo real”, gerando situações inusitadas.
Aliás, isso torna a HQ bem variada. Assim, ora podemos ter histórias mais sérias, com abordagens de temas importantes (homossexualidade, paternidade, filosofia), ora temos sagas mais fantásticas, envolvendo deuses e um papel mais metafísico do universo.
O SONO DOS JUSTOS
Por ter uma abordagem mais sensível nos roteiros, em contraste, por exemplo, com as truculentas HQs de super-heróis, Sandman conseguiu outra façanha: é extremamente popular também entre as mulheres, um público que em geral não é muito chegado em quadrinhos.
Se você perguntar a uma delas qual seu personagem favorito, há 80% de chances de que a resposta que ouvirá será: “a Morte”. Único personagem que ficou tão popular quanto Morpheus, se não mais (e ganhou até duas minisséries próprias, também escritas por Gaiman), a única certeza humana, aqui é mostrada não como uma caveira ou um velho de capuz e foice na mão, como se popularizou, mas como uma garota jovem em aparência (porque na realidade ela é mais velha que Morpheus), de visual gótico, gentil e simpaticíssima. Você quase torce para encontrá-la. E como Neil escreve, todo mundo irá encontrá-la ao menos uma vez. A ideia de mostrá-la como uma figura meiga servia principalmente para passar a mensagem de que a mortalidade é inevitável e natural, e, portanto, não deveria ser temida.
Já que estamos falando de visual, vale lembrar que a aparência de Sonho – pálido, de cabelos desgrenhados e sempre vestido de preto – foi inspirada no vocalista do The Cure, Robert Smith. Neil Gaiman é fã de Punk e Pós-punk e incluía muitas referências musicais em suas histórias.
Sandman teve 75 edições publicadas entre 1989 e 1996 nos EUA. E diferente dos quadrinhos de super-heróis que nunca têm fim, esse número limitado de edições foi planejado desde o começo. Então, a história tem começo, meio e final. Claro, o sucesso foi tanto que muitas edições especiais do universo da série (estreladas por personagens secundários, ou pelo próprio Morpheus, em tramas sem ligações com a cronologia) foram lançadas, a maioria escrita por outros roteiristas. Mas só para deixar claro, aqui estamos falando exclusivamente da série regular.
Essas 75 edições se dividem em 10 arcos de histórias. E aí, cada um tem uma abordagem diferente (alguns mais fantasiosos, outros mais filosóficos) e como resultado, não dá para deixar de notar certa irregularidade. Há histórias excelentes (algumas estão entre as melhores coisas que já li na vida) e outras nem tanto. Algumas são até confusas. Mas o conjunto da obra, mesmo com essas eventuais derrapadas, é fantástico. Mesmo o número mais fraco da revista ainda é melhor que muita coisa que está sendo publicada hoje em dia.
O outro único “senão” a respeito da série vai para o departamento de arte. Ao longo dos arcos de história, Sandman contou com muitos desenhistas e arte-finalistas diferentes e com estilos díspares. Como resultado, a arte é muito, mas muito irregular mesmo, pendendo para o fraco. A maioria dos desenhistas tem aquele estilo de “quadrinhos adultos” (e quem costuma ler essas publicações sabe do que estou falando), com traços descuidados, caricatos e arte-final demasiadamente suja que não me agrada nem um pouco.
Embora a qualidade do texto seja tamanha que supere esse problema, não dá para deixar de imaginar que a HQ poderia ser mais bem cuidada no aspecto da arte. De fora dessa crítica só fica mesmo Dave McKean, responsável por todas as capas, que mistura fotos, colagens e ilustrações com as mais diversas influências. Seu trabalho na série é tão bom que todas as capas foram reunidas e publicadas posteriormente no livro em dois volumes (Sandman – Capas na Areia).
Agora que você já sabe como é a série, vamos dar uma rápida passada por cada um de seus arcos. Então, feche os olhos e deixe o sono levá-lo para o reino do Sonhar (tá, isso ficou brega).
PRELÚDIOS & NOTURNOS (Preludes & Nocturnes)
O primeiro arco da série. Em 1916, o ocultista inglês Roderick Burgess (claramente inspirado em Aleister Crowley) conduz um ritual para aprisionar a Morte. Mas ao invés dela, captura seu irmão mais novo, Sonho. Durante os 72 anos em que ficou aprisionado no porão da mansão do mago, diversas pessoas passam a apresentar distúrbios do sono (novamente, baseado em uma doença real que acometeu muita gente no período em que se passa a história). Quando consegue escapar, Morpheus precisa recuperar os três objetos (um elmo, uma algibeira e um rubi) que carregava consigo e são dotados de grande parte do seu poder. Para recuperar a algibeira, conta com a ajuda de John Constantine, para pegar o elmo precisa fazer uma visitinha ao Inferno e o rubi, o mais difícil, está de posse de John Dee, o Doutor Destino (não confundir com um certo soberano da Latvéria), inimigo tradicional da Liga da Justiça, que não vai entregá-lo sem luta.
Este arco, que compreende as revistas Sandman 1 a 8, apresenta os personagens (a Morte aparece pela primeira vez na última história deste volume), dá a tônica da temática da série e já abre pontas para tramas a serem abordadas nos arcos seguintes.
A arte é de Sam Kieth, Mike Dringenberg e Malcolm Jones III.
Nota: 5
A CASA DE BONECAS (The Doll’s House)
Enquanto Morpheus está ocupado botando ordem no Sonhar, que ficou bem bagunçado durante sua ausência, o foco passa para Rose Walker que, durante uma viagem à Inglaterra, enfrenta situações surreais e pode guardar um segredo que nem mesmo ela conhece. Dentre muitos acontecimentos bizarros, como uma convenção de assassinos seriais, por exemplo, vale destacar a história Homens de Boa Fortuna, que serve como interlúdio para a trama principal e mostra Hob Gadling, um homem que certo dia chega à conclusão que morrer é para os otários e as pessoas só o fazem porque acham que é natural. Como resultado, Hob ganha vida eterna e se encontra com Morpheus a cada cem anos no mesmo boteco para colocar o papo em dia. Fora dar uma boa amostra das loucuras que acontecem em Sandman, vale destacar aqui a bela aula de História que Gaiman dá. A história de Hob Gadling começa em 1300 ou 1400 e avança de cem em cem anos até chegar à época atual.
Ilustrado por Mike Dringenberg, Malcolm Jones III, Chris Bachalo, Michael Zulli e Steve Parkhouse, saiu entre os números 9 a 16 da revista.
Nota: 4
TERRA DOS SONHOS (Dream Country)
Esse na verdade não é um arco, é uma coletânea de quatro histórias autocontidas e sem ligação entre si. E duas delas são as minhas favoritas. Tirando a história do gato, que é apenas bacana e serve para reforçar a ideia de que Morpheus cuida dos sonhos de todas as criaturas, vale mencionar Calliope, a história de um escritor que, em crise criativa, compra uma musa inspiradora, e a deprê Fachada, com uma mulher com os mesmos poderes e aparência do herói Metamorfo. Por ser deformada, vive sozinha e triste, mas não consegue se matar, pois graças ao seu poder, pode transformar seu corpo em qualquer elemento químico conhecido, tornando-se indestrutível. Até que a Morte aparece para tentar resolver seu problema.
Há ainda Sonho de Uma Noite de Verão, que mostra William Shakespeare encenando sua peça Sonhos de Uma Noite de Verão pela primeira vez e para uma plateia formada por amigos de Morpheus do reino das fadas. Essa história foi a primeira e única HQ a ganhar o prêmio de literatura World Fantasy Award. Única porque, no ano seguinte, os caras mudaram as regras da premiação para impedir que revistas em quadrinhos concorressem. Sim, aparentemente eles acham que o formato importa mais do que aquela coisinha besta chamada texto…
Terra dos Sonhos reúne as edições 17 a 20, com arte de Kelley Jones, Charles Vess, Colleen Doran e Malcolm Jones III.
Nota: 5
ESTAÇÃO DAS BRUMAS (Season of Mists)
Este é, na minha modesta opinião, o melhor arco de toda a série. Lúcifer (sim, exatamente quem você está pensando) decide que já está na hora de curtir uma merecida aposentadoria. Ele expulsa todo mundo (almas condenadas, demônios) do Inferno, tranca o portão e dá a chave para Morpheus fazer o que quiser com ela.
Sonho decide dá-la a quem estiver interessado em comandar o Inferno, mas quando uma centena de deuses das mais variadas religiões e mitologias (entre eles Thor e Anúbis), além de anjos e demônios, batem à sua porta querendo o artefato, ele percebe que o presente de Lúcifer foi sua última tentativa de vingança (os dois têm uma história prévia) e precisa pensar bem no que vai fazer para não deflagrar uma guerra divina.
Misturando teologia e política, é um prato cheio para quem gosta desses temas. Se você quer começar a ler a série, eu sugiro fortemente que comece por esse arco. A arte é de Kelley Jones, Mike Dringenberg, Malcolm Jones III, Matt Wagner, Dick Giordano, George Pratt e P. Craig Russell e compreende as edições 21 a 28 da revista.
Nota: 5
UM JOGO DE VOCÊ (A Game of You)
Este arco é focado na personagem Barbie, coadjuvante de A Casa de Bonecas. Quando está acordada, é apenas a moradora de um cortiço decrépito. Quando dorme, transforma-se na princesa de um reino exótico ameaçado por uma entidade chamada Cuco. Para salvá-lo da destruição, contará com a ajuda das suas amigas de prédio, entre elas um travesti e uma jovem esquisita com profundos conhecimentos de magia.
Uma grande fábula sobre o escapismo. Está longe de ser uma das minhas histórias favoritas. Sonho pouco aparece aqui. Compila as edições 32 a 37, com arte de Shawn McManus, Colleen Doran, Bryan Talbot, George Pratt, Stan Woch e Dick Giordano.
Nota: 3
FÁBULAS & REFLEXÕES (Fables & Reflections)
Você deve ter notado que houve um salto da edição 28 para a 32 da revista. Os números 29 a 31, bem como as edições 38 a 40 e 50 formam Fábulas e Reflexões, mais uma coletânea de edições autocontidas, que servem como contos. Porém, diferente de Terra dos Sonhos, que mostrava aspectos humanos com Sandman como coadjuvante, aqui as tramas são centradas em personagens secundários importantes para a cronologia da série. As histórias não têm o mesmo impacto que a outra compilação, atingindo resultados variados.
A arte ficou por conta de Bryan Talbot, Stan Woch, P. Craig Russell, Shawn McManus, John Watkiss, Jill Thompson, Duncan Eagleson, Kent Williams, Mark Buckingham, Vince Locke e Dick Giordano.
Nota: 3,5
VIDAS BREVES (Brief Lives)
Vidas Breves trata de um tema aparentemente comum: família. Mas como em Sandman nada é comum, a família em questão é um pouco diferente da que estamos acostumados. Claro, estou falando dos Perpétuos. Tudo começa quando Delírio pede a ajuda de Morpheus para encontrar Destruição, o irmão deles há muito desaparecido. Sonho aceita, mas há um “porém”. Quando Destruição partiu, abandonando a família, ele disse que não queria ser encontrado. A narrativa mais lisérgica da série, muito em parte pela grande participação da personagem Delírio, que se porta exatamente como seu nome sugere.
Reúne as edições 41 a 49 da revista, a arte é de Jill Thompson, Vince Locke e Dick Giordano. Talvez pelo traço ser apenas de Jill (Locke e Giordano são arte-finalistas) ao invés do costumeiro batalhão de desenhistas a cada arco, esta é a saga mais bonita e bem resolvida visualmente.
Nota: 4,5
FIM DOS MUNDOS (Worlds’ End)
Seguindo o estilo de narrativa de Contos de Canterbury, de Chaucer, e por que não, de Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, Gaiman apresenta um casal em viagem de carro. Surpreendidos por uma tormenta que afeta as diferentes realidades, eles buscam abrigo em uma estalagem. Enquanto o temporal não passa, os hóspedes matam o tempo contando histórias bizarras, mórbidas e fantásticas.
Cada história é independente uma da outra, mas ao contrário de Terra dos Sonhos e Fábulas e Reflexões, elas são ligadas pelos personagens da estalagem, e, portanto, devem ser lidas na ordem.
Este volume está nas edições 51 a 56, com arte de Michael Allred, Gary Amaro, Mark Buckingham, Dick Giordano, Tony Harris, Steve Leialoha, Vince Locke, Shea Anton Pensa, Alec Stevens, Bryan Talbot, John Watkiss e Michael Zulli.
Nota: 4
ENTES QUERIDOS (The Kindly Ones)
O maior arco da série, compreendendo 13 números da revista (57 a 69), é narrado na mesma estrutura de uma tragédia grega (incluindo o coro) e tal qual uma tragédia prenuncia desde o começo, alguém vai se dar mal no final, graças a um crime que necessita de reparação. A mensagem basicamente é: erros do passado podem voltar à tona para lhe dar um chute no traseiro. Oficialmente é o final da gigantesca saga de Morpheus.
A arte ficou a cargo de Marc Hempel, Richard Case, D’Israel, Teddy Kristiansen, Glyn Dylon, Charles Vess, Dean Ormston e Kevin Nowlan.
Nota: 5
DESPERTAR (The Wake)
O último arco da série. Funciona como um grande epílogo, visto que a trama principal se encerra no arco anterior. Mostra as consequências de Entes Queridos, uma nova ordem no Sonhar e, em sua última história, a quitação da dívida entre William Shakespeare e Morpheus.
Compreende os números 70 a 75 da revista, a arte é de Michael Zulli, Jon J. Muth e Charles Vess.
Nota: 4,5
As 75 edições de Sandman foram publicadas no Brasil pela primeira vez pela editora Globo, de 1989 a 1998. De 1999 a 2003 começou a ser republicada e nesse período passou por três editoras diferentes (TEQ, Atitude e Brainstore), sem nunca ser concluída, até que a Conrad assumiu em 2005, republicando a série em 10 encadernados, cada um com um arco da série. Com o fim da republicação pela Conrad, os direitos da revista passaram para a editora Pixel Media, que iniciou uma nova republicação, mas em um formato mais barato. Quando a Panini assumiu a publicação dos títulos da DC Comics no Brasil, incluindo os do selo Vertigo, republicou novamente toda a saga, agora em quatro volumes de luxo, com um formato maior que o tradicional, os quais ainda podem ser encontrados em livrarias com alguma facilidade.
RETORNANDO AO SONHAR
Após o término da série regular, Neil Gaiman voltou ao universo do personagem em duas ocasiões, para alegria dos fãs carentes. E é exatamente dessas ocasiões em questão que falarei a seguir.
SANDMAN: NOITES SEM FIM (The Sandman: Endless Nights)
A primeira ocasião foi em 2003, com a publicação desta graphic novel contendo sete histórias curtas, cada uma delas protagonizada por um dos membros dos Perpétuos. Os contos são independentes entre si e não possuem grandes relações com a série regular, podendo ser lidos separadamente numa boa. Para os saudosistas, foi uma legal, ainda que breve, nova visita ao universo onírico da série, muito embora não seja um trabalho obrigatório. Ainda assim, foi a primeira HQ a figurar na tradicional lista de bestsellers do New York Times.
No campo da arte, contudo, a coisa melhora demais em relação ao que havia sido feito na série mensal. Cada uma das sete histórias é ilustrada por um artista diferente, todos eles da escola das graphic novels europeias, com traços caprichados. Sente só os responsáveis pela arte: Glenn Fabry, Milo Manara, Miguelanxo Prado, Frank Quitely, P. Craig Russell, Bill Sinkiewicz e Barron Storey. Só nomes de responsa. A capa novamente é de Dave McKean.
A graphic novel foi publicada aqui primeiro pela Conrad em 2003, e posteriormente republicada pela Panini.
Nota: 3,5
SANDMAN – PRELÚDIO (The Sandman: Overture)
Contudo, a grande notícia veio mesmo em 2012, quando Neil Gaiman confirmou que escreveria uma nova minissérie em seis edições protagonizada por Morpheus e a ser lançada em 2013, para comemorar os 25 anos da série original. Como o título em português entrega, ela é um prelúdio que mostra o que Morpheus estava fazendo imediatamente antes de ser capturado por Roderick Burgess no arco Prelúdios & Noturnos.
Morpheus tem de impedir nada menos que a destruição do universo, processo que ele pode inadvertidamente ter desencadeado. A história é boa, uma volta digna ao personagem, com todas as viagens metafísicas que o escritor tão bem foi refinando ao longo de sua carreira, não só em suas HQs, como também em seus romances. Uma boa história que cumpre o que promete, mostrando que, mesmo tendo passado anos afastado desse universo, o autor não perdeu a mão e ainda o domina totalmente, sendo mesmo um excelente preâmbulo para a série principal.
A arte ficou a cargo de J.H. Williams III e o cara está mesmo no auge da carreira. É o tipo de HQ de se ficar longos minutos apenas admirando cada painel, com um detalhismo impressionante, bem como layouts de páginas extremamente criativos. Fico só imaginando como seria tremendão se a antiga série regular tivesse sido toda desenhada por ele. Esta é, sem dúvida, a história mais belamente ilustrada envolvendo o personagem.
Apesar de o primeiro número ter sido publicado em 2013 nos EUA, devido à agenda cheia de Gaiman, agora também como um respeitado escritor de prosa, a série sofreu vários atrasos e só foi concluída em setembro de 2015. Imediatamente após seu encerramento na terra do Tio Sam, a Panini começou sua publicação por aqui, onde sairá em três volumes (cada um contendo duas edições da revista) em capa dura e com papel de alta qualidade. No momento do fechamento desta matéria, o primeiro volume já está disponível nas bancas e livrarias.
Nota: 4
Como você pode ver, não há desculpas para não acompanhar a série. Há opções para todos os gostos e faixas econômicas. Então, corra atrás da versão que mais lhe agrada e divirta-se com este verdadeiro marco dos quadrinhos.